𝙽𝙾𝙿𝙴 (𝙽𝙰𝙾! 𝙽𝙰𝙾 𝙾𝙻𝙷𝙴!)
É um filme que se desvencilha parcialmente de estruturas, gêneros e roteiros que estamos acostumados a ver e que já foram apresentados em obras cinematográficas do mesmo escritor e diretor Jordan Peele, como em "Corra! (Run!)" de 2017 e "Nós (Us)" de 2019. Esse ano, Nope apresenta uma visão diferente, singular e super crítica sobre a indústria, a discriminação racial que dentro dela acontece, a ganância daqueles que possuem uma posição de poder e as dificuldades que pessoas negras no contexto como o dos irmãos protagonistas do filme sofrem para conseguir uma oportunidade nela. No início, cenas que eu pensei que não fariam sentido fizeram depois, e ele ganha muito mais movimento, suspense e tensão quando o que se vê lá em cima entre as nuvens, não é bem uma nave espacial e sim o próprio alienígena, que se você prestar bem atenção, tem uma alimentação seletiva e uma dieta orgânica.
O roteiro assume alguns deslizes, exageros cômicos e diálogos vazios, mas quando somado com a fotografia excelente que traz um ar de suspense, transmite quase que instantaneamente o desconforto promovido pela imagem e a variação de formas tomadas pelo monstro alienígena no decorrer do longa. Além disso, o terceiro trabalho do cineasta Peele, deseja mais que estrelar apenas um filme convencional com seres de outro mundo, mantem a reputação construída por ele de diretor de "terror inteligente" e do meio para o final carrega acontecimentos dignos de interesse e impulso de discuti-los. O título em português pode não ter sido um dos melhores, até porque já é considerado um quase-spoiler do que vai se passar no filme, porém, o conteúdo não fica para trás por isso. A simbologia que a trama carrega, a mensagem principal que eu entendi só depois de assistir o filme pela segunda vez e ouvir podcasts e pesquisar sobre, o porque do filme começar com uma cena desastrosa de um episódio do seriado Gordy's Home, tudo isso é demais quando na sua cabeça cada peça se liga. O que mais me chamou atenção é o fato de Nope ser um filme que fala de forma clara para uns e subjetiva para outros, sobre a espetacularização de situações diversas e como o ser humano tem a capacidade de tornar tudo um espetáculo, um show. Outra ponto marcante para mim é a relação de confiança e parceria construída entre o OJ e a Emerald (Daniel Kaluuya e Keke Palmer, respectivamente), com base também que é nessa cumplicidade que o filme chega ao fim.
Então para quem busca somente uma distração, Nope entrega (e entrega muito bem à esse proposito), mas para quem procura um filme que além de crítico, trabalha estranhamente a natureza do espetáculo e usa dos elementos, diálogos, personagens e da criatura misteriosa para enfatizar a sua ideia principal, ele é de longe o mais recomendado.
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