Antes de falar sobre como a escrita é fluida, ritmicamente detalhada e de como as palavras se encaixam com precisão, preciso falar que há algo de prazeroso e angustiante em escritas nacionais (especialmente em uma obra nordestina) que é a proximidade com a nossa realidade. Na minha concepção é aí que o horror começa, na vida cotidiana que, na sua simplicidade e decadência, facilmente poderia ser a nossa. Isso faz com que a história se torne mais perturbadora e que surja um medo não só do sobrenatural mas, sobretudo, do real. Cada morador tem personalidade e características perfeitamente delineadas e cada um carrega o seu fardo e seus pecados (assim como todos nós). Mas nesse cenário o condomínio se faz uma espécie de purgatório, “limpando” os pecados a sua forma e marinando cada morador até o momento final.
Eu sinceramente me surpreendi com todas as reviravoltas (errei muitos palpites) o que é totalmente esperado em um bom livro.
Sobre os moradores, temos 7 + porteiros. Dentre eles temos pianista, p*ta, crente, bolsonarista, comunidade lgbt, esquedomacho, Doutor, cachorro, velha fofoqueira, etc. claramente um Condomínio bastante diversificado. E talvez por esse motivo, repleto de tantas intrigas e desavenças.
Cada um tem uma necessidade iminente, seja amor, validação, independência, e por aí vai. Novamente, assim como todos nós. Mas temos algo a mais nesse cenário: aqui temos um assassinato. E para o Condomínio impunidade não é uma opção.
5 danadas estrelas para esse livro que mistura uma escrita deliciosa, um horror envolvente e a proximidade que só uma obra nacional é capaz de trazer.