Antonio Machado

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Imperdível! Um romance histórico embasado fielmente nos acontecimentos factuais da Segunda Guerra Mundial. Luize Valente, com seu apurado faro investigativo de jornalista e pesquisadora histórica, nos concede através de uma narrativa envolvente e impactante, o prazer de uma real imersão no universo literário. Com personagens envoltos numa verdadeira epopeia, Uma Praça em Antuérpia é uma arrebatadora história envolta em dor e perda, mas também em amor, esperança e redenção.

Já li e assisti a muito material publicado/exibido sobre a Shoa. Devo dizer que essa série é sem dúvida uma das melhores já produzidas e se posiciona no mesmo patamar de “O Pianista” ou “A Lista de Schindler”. Acompanhamos a sina dos Kurc, família judia de Radom, na Polônia. A Polônia aliás é um caso à parte, pois durante a Segunda Guerra Mundial sofreu com a ocupação nazista e em sequência com a soviética. Lar da maior comunidade judaica da Europa antes da guerra, teve mais de 90% de sua população judia, ou cerca de 3.000.000 de judeus, assassinados pelos nazistas. Em O Pianista e A Lista de Schindler vemos cenas chocantes, inimagináveis até. Em Somos os Que Tiveram Sorte vemos a mesma realidade sob outra ótica, menos crua, mas igualmente cruel. Estamos diante de uma família que vivenciou no corpo e na alma todos os horrores perpetrados pelo ódio insano nazista. Diferentemente de tantos outros relatos impactantes sobre sobreviventes do Holocausto, o que torna essa história extraordinária e apaixonante é saber que TODOS os membros da família Kurc sobreviveram. E mais, a grande maioria da família (7 em 8) se reencontrou pouco tempo depois do final da guerra e conseguiram se estabelecer em um mesmo país, o Brasil, onde constituíram novas famílias e onde viveram pelo resto de suas vidas. E já que falamos sobre o Brasil na guerra, como vimos na série, não foi fácil para Addy continuar aqui. A política discriminatória de Getúlio Vargas (que simpatizava com a política nacionalista de Hitler) praticamente inviabilizava a permanência de judeus e refugiados em território brasileiro. Entre 1930 e 1945, o governo Vargas colocou em prática uma política imigratória restritiva e racista. Vetou, com base em argumentos racistas, a concessão de vistos aos judeus, ciganos, negros e japoneses. Para o governo, não interessava ao Brasil receber os judeus que fugiam do nazifascismo porque – segundo as autoridades brasileiras – eles colocavam em risco o processo de construção da raça e da brasilidade. E já que também falamos sobre a política racista de Vargas na questão dos judeus, recomendo outra série muito boa, “Passaporte para Liberdade” (2021), que conta a história de Aracy de Carvalho, funcionária do consulado do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, que salvou judeus do nazismo durante a 2ª Guerra Mundial.

“O Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos., é um livro infanto-juvenil, autobiográfico e que foi publicado em 1968. Foi traduzido para 52 línguas e publicado em 19 países. Seu suceso foi tal que foi adaptado para o teatro, cinema e televisão (uma novela realizada pela Tupi e duas pela Band). Sua adaptação mais recente foi para o cinema em 2012, tendo José de Abreu e Caco Ciocler no elenco principal. O livro é protagonizado por Zezé, um garotinho comum, de cinco anos, natural de Bangu, periferia do Rio de Janeiro e se passa no início dos anos de 1920. Muito esperto e independente, Zezé é conhecido pelas suas peraltices. Pela sua sagacidade, diziam que Zezé "tinha o diabo no corpo". De tão esperto que é aprende a ler sozinho. Mas suas “diabruras” lhe rendem surras homéricas, aplicadas por seu pai e irmãos mais velhos, que lhe deixam marcas profundas, tanto no corpo como na alma. É nessas horas que ele procura refúgio fora de casa, seja com seu tio Edmundo, por quem tem grande estima, seja dentro de sua imaginação, onde cria um mundo cheio de fantasia, repleto de cowboys do cinema americano. A família de Zezé tem a figura austera do pai, desempregado, que passa o dia olhando paras as paredes da casa. A mãe, a única a trabalhar, tira o sustento da família de cinco filhos numa fábrica. É nela que Zezé derrama todo o seu carinho e afeto, já que o pai está quase sempre lhe batendo. Antonio, seu irmão mais velho, por vezes o ajuda e em outras bate nele. Sua irmã Lalá, a mais velha, também bate nele e é quem cuida da casa, juntamente com Glória, sua outra irmã. É Glória quem o defende e o apoia nas horas mais difíceis. E finalmente tem Luís, o caçula da família, por quem Zezé tem grande carinho e cuidado. Obrigados a mudar por causa da precária condição financeira, é nessa outra casa que Zezé encontra o pé de laranja lima e nasce aí uma amizade de pura cumplicidade. Zezé o apelida carinhosamente de “Minguinho”, que passa a ser seu confidente e conselheiro. O livro é repleto de dramas sociais. A fome, a pobreza, a indiferença e a desesperança permeiam o cotidiano da família. Por outro lado, a ternura, o carinho, a compaixão e o amor, conseguem equilibrar esse turbilhão de emoções. E Zezé, quase sempre está na vanguarda de todos eles deles.

Não há estrelas suficiente para avaliar essa obra. Mas será que existem palavras suficientes também? O Passeador de Livros é uma história simples. E talvez seja por isso que é tão bela e cativante. Os dois protagonistas, que vão construindo os laços de amizade durante a trama, são bem diferentes e ao mesmo tempo, muito iguais, apesar da diferença enorme das idades. Carl é velho, solitário, não foge de sua rotina e detesta sair dela. Por sua vez, Schascha é uma garotinha curiosa, animada, cheia de opiniões e idéias sobre tudo e não vê a hora em se aproximar dele. Do alto da janela de sua casa, ela acompanha a rotina de Carl, que diariamente atravessa a praça durante o percurso de suas entregas de livros. Até que um dia, não suportando mais de tanta ansiedade e curiosidade, Schascha o aborda na rua. Carl, mesmo a contragosto e dando-se por vencido, aceita que aquela encantadora menininha de roupa estranha o acompanhe em sua jornada. Mas, será que seus clientes habituais também a aceitarão? Então, o que está esperando? Leia o livro! Garanto que ao terminá-lo, você o presenteará a uma pessoa querida. Afinal, quando gostamos muito de um livro, queremos muito que ele também emocione aqueles a quem amamos.

Belo exemplo de como o poder das palavras destroem muros e constroem pontes. O filme nos ensina que a vida em um instante vira de ponta a cabeça e que as oportunidades desperdiçadas quase nunca podem ser recuperadas. E ainda que apesar de todo o mal que a guerra desperta nas pessoas, o bem que reside no íntimo deve prevalecer. Assim como Hans, que lhe deu o exemplo de um caráter incorrupto, Liesel não deixa por menos e se torna uma pessoa autenticamente altruísta.

A guerra desperta o pior nas pessoas. Mas também aflora o que de melhor existe dentro delas. Esse paradoxo é a grande questão que Janet Skeslien Charles nos apresenta cruamente e que nos leva a refletir profundamente: E se fosse você? Para a grande maioria de nós, que não vivenciou os horrores da guerra, é fácil tecer comentários recriminatórios. Até mesmo achar que esse ou aquele personagem do livro, que praticou algo inconcebível ao nosso olhar, merecessse ser julgado ou condenado da maneira que foi. E esse era o cotidiano das pessoas, que da noite para o dia, tiveram suas vidas destroçadas pela guerra e que foram forçadas a praticar atos de selvageria e barbárie inimagináveis. Mas que foram feitos em momentos de grande necessidade, até mesmo em casos de vida ou morte. É quando o instinto primitivo de sobrevivência prevalece acima da razão e da civilidade. Então, mergulhe nesse contexto sombrio, mas não menos apaixonante, e descubra como as pessoas foram ao mesmo tempo terrivelmente individualistas e extraordinariamente altruístas.

A realidade nua e crua do pós guerra numa combalida Itália, que tenta se reerguer à duras custas. Esse é o pano de fundo da série que nos apresenta a triste realidade de duas amigas de um bairro decadente de uma Nápoles dos anos de 1950. As duas crianças enfrentam todo tipo de dificuldades e não aceitam sua condição de miséria e submissão, buscando nos livros sua tábua de salvação. Apesar dos parcos recursos financeiros de suas famílias e de todas as humilhações a que são submetidas as duas meninas por uma sociedade machista e arcaica, elas dizem não a essas convenções e seguem adiante com seus sonhos e aspirações. As duas amigas são Lila e Lenú e a série nos mostra como uma depende da outra e como se completam, apesar das personalidades opostas e de opiniões conflitantes. E é nesse conflito de interesses que, sigilosamente, as duas passam a competir entre si.

Muitos sobreviventes dos campos da morte do nazismo relataram suas incríveis histórias de sobrevivência. Existe uma vasta literatura temática, produzida após o término da segunda Guerra Mundial. Muitas dessas histórias ficaram conhecidas após a libertação dos diversos campos espalhados por toda a Europa, e outras tantas ao longo dos anos que se seguiram. O Tatuador de Auschwitz vem suprir uma lacuna não muito explorada sobre o tema: o amor entre prisioneiros. Até porque era muito improvável que isso ocorresse dado às rígidas normas de distanciamento entre homens e mulheres nos campos. O caso de amor secreto entre Lale e Gita se torna, pois, uma das mais belas e inacreditáveis histórias de sobrevivência entre duas pessoas que, separadas após a libertação de Auschwitz, conseguem se reencontrar e viver o resto de suas vidas unidas pelos mesmos laços de amor inabalável, que lá teceram quando se encontraram pela primeira vez.

Além de um ótimo filme dedicado ao combate do ódio racial, destaco para o melhor momento do filme, quando entra em cena "Miep Gies". E não é uma personagem. A real Miep Gies visita a ficção, convidada pela professora interpretada por Hilary Swank para conversar com seus alunos (os “escritores da liberdade”). Para quem não está ligando o nome à pessoa: Miep foi uma das duas mulheres que mantiveram vivas a adolescente Anne Frank e sua família, além dos quatro outros escondidos no chamado “Anexo Secreto” (os três membros da família Van Pels e o dentista Fritz Pfeffer) e a real responsável pela guarda do diário de Anne, que foi entregue a Otto Frank, o pai de Anne, que sobrevive à Auschwitz e retorna á Amsterdã e ao reencontro com Miep. Filme imperdível !!!

Apocalypse Now” (1979), adaptação do livro “Heart of Darkness” de Joseph Conrad é uma verdadeira obra-prima da sétima arte, com direção de Francis Ford Coppola e estrelado por atores de peso - com atuações extraordinárias -, como Marlon Brando, Robert Duvall e Martin Sheen. Atualmente é considerado um dos melhores filmes de todos os tempos. O filme é ambientado na Guerra do Vietnã e tem no seu personagem central, Benjamin Willard (Martin Sheen), capitão de uma força de elite do exército americano. Willard tem a missão de matar o renegado e presumido insano Coronel Walter Kurtz (interpretado brilhantemente por Marlon Brando), das Forças Especiais. Kurtz, no passado um soldado brilhante, aparamente enlouqueceu e comanda seu próprio exército como um semideus. O elenco grandioso, conta ainda com as presenças dos então ainda iniciantes no cinema, Harrison Ford, no papel do Coronel Lucas, das forças de inteligência do exército dos EUA e Laurence Fishburne, como “Mr. Clean", um dos soldados que fazem parte dos tripulantes do barco que leva o Capitão Willard através de sua jornada em busca do insano Kurtz. Uma das músicas usadas como trilha sonora na cena do barco é “ I Can't Get No Satisfaction “, dos Rolling Stones. É uma das cenas icônicas do filme. Na cena, Mr.Clean segura um rádio de pilha e de repente começa a tocar “Satisfaction”. Ele começa a dançar em cima do barco e paralelamente aparece o soldado Lance Johnson (interpretado por Sam Bottoms) que era surfista profissional antes da guerra, sendo puxado num esqui aquático pelo barco que os conduz através do rio que os levará à selva fechada. A cena é surreal! Outra cena icônica é o vôo razante de um esquadrão de helicópteros, comandado peloTenente-Coronel Bill Kilgore (interpretado também brilhantemente por Robert Duvall), que ao som de “ As Cavalgadas das Valquírias “ (saindo dos alto-falantes dos helicópteros), de Richard Wagner, ataca uma aldeia vietnamita, lançando bombas de Napalm, causando um efeito espetacular na cena. Porém, minha cena favorita é quando Kilgore, um aficionado pelo surf, ordena que um grupo de soldados, entre eles o surfista Lance, surfem nas ondas do Rio Nung. Na cena, Kilgore está em terra, com um megafone em mãos, gritando ordens para os soldados em suas pranchas de surf, que deslizam sobre as marolas do rio, em meio a um fogo cruzado de balas e bombas lançadas contra eles pelos Vietcongues. Em meio a toda essa loucura, Kilgore parece indiferente a tudo que acontece em volta de si, se atendo apenas a curtir os soldados surfando, apesar do medo estampado nas faces dos soldados em sua volta. É ainda nessa cena que Kilgore expressa o seu amor pelo cheiro de napalm (tipo de bomba incendiária alimentada por gasolina de aviação, que eram lançadas pelos caças americanos): "Smell that? You smell that? Napalm, son. Nothing else in the world smells like that. I love the smell of napalm in the morning. You know, one time we had a hill bombed, for 12 hours. When it was all over, I walked up. We didn't find one of 'em, not one stinkin' dink body. The smell, you know that gasoline smell, the whole hill. Smelled like… Victory. Someday this war's gonna end…" Traduzindo em resumo: ... Adoro o cheiro de napalm pela manhã, ... cheira ... como ... vitória! “ A trilha sonora é espetacular! Além das já citadas, destaque ainda para "The End", do Doors e "Susi Q", do Credence Clearwater Revival. E então, está esperando o que para assistir? Já foi lançada inclusive uma versão em UHD 4K.