Este filme é excepcional, mas para o apreciar precisamos de uma pequena dose de "estado de perda", precisamos de sentir que nos falta alguém. Percebe-se que o realizador está a ter uma crise criativa, e recorre ao filme que realizou no principio da sua paixão (ser realizador). O filme catapultou-o para o mundo das vedetas. Mas não mudou apenas a si, mudou a vida da comunidade, ao ponto do simples sapateiro se transfigurar na personagem e permanecer num estado de " loucura" onde vê na realidade (e todos nós estamos nessa "cegueira do realismo" e deixamos de ver poesia no quotidiano, festamos subjugados pelo encantador chamado "racionalismo") toda uma sucessão de acontecimentos que O tornam alguém que realiza o seu sonho de restaurar um tempo sagrado, a do primeiro amor, na idade perdida. Ora o realizador (que somos todos nós em relação à nossa vida, cada um tem a sua versão da sua própria vida ) só percebe que no fundo ele também procura recuperar o tempo sagrado, o tempo em que tudo acontecia sem ter consciência da sua singularidade, o tempo inconsequente que contrasta com a madrasta realidade.
"Eu vejo luz nos teus olhos, mas infelizmente estou prometido para outra "
O"realizador" passou a ter a impossÃvel demanda de encontrar quem dele espera e sempre esperou. Aquela espera um prÃncipe, um cavaleiro, um cavalheiro a retire da sua realidade, isso vai acontecer, mas com um "final" surpreendente... " Este é o inÃcio de uma nova relação e muito interessante..." ficam juntos, num futuro esplendoroso, mas na condição de fazer os votos de "eterno" companharismo na missão de viver num tempo de poesia, numa outra dimensão.