Laércio Scortegagna

É incrível como após mais de três décadas Tim Burton consegue revisitar Betllejuice e manter a essência intacta e ampliar seus horizontes. A sequência BETLLEJUICE OS FANTASMAS AINDA SE DIVERTEM é divertido, insano e emocionante na medida certa. Michael Keaton e Winona Ryder continuam carismáticos e confortáveis em seus personagens como se o tempo não tivesse passado para eles. E com adição de um cast expecional, com destaques para Jenna Ortega e Monica Belluci. Tim Burton volta a ser Tim Burton, costurando a narrativa com subtramas de forma competente e apostando em personagens excêntricos e efeitos práticos tornando tudo mais palpável e verossímil. BETTLEJUICE é um dessas raras sequências que dão certo em todos os sentidos, é divertido, ousado e cativante como um bom filme de Burton deve ser.

Assassino por Acaso é uma grata surpresa e com um ótima premissa. Sempre fui muito fã dos filmes do Richard Linklater, ele preza muito por um roteiro bem desenvolvido e extrai o máximo das performances. E aqui não é diferente com Glenn Powell que dá um show de interpretação com suas várias facetas e prova mais uma vez porque é um das novos talentos hollywoodianos.

O diretor Denis Villeuneve definitivamente colocou denovo no mapa o gênero dos grandes épicos hollywoodianos. Se em Duna - Parte Um (2021) já tinha apresentado um filme grandioso, em Duna 2 vai mais além e entrega uma obra-prima primorosa. É praticamente um filme-evento que nos deixa completamente imersos na narrativa empolgante através dos embates em Arrakis. É um filme que merece ser assistido na tela grande, assistam essa obra de arte nos cinemas pra sentirem mais o gosto dessa experiência visual e sonora únicas.

UM TIRA DA PESADA 4 acerta muito bem no tom da nostalgia, algo que por exemplo Ghostbusters recentemente não chegou nem perto disso. O retorno de Axel Foley é divertido e despretensioso como os demais filmes da franquia. A trama não tem nada de inovadora, mas é simples e funcional assim como um filme de Um tira da pesada deve ser. Era curioso ver como seria esse retorno após um hiato de três décadas, mas logo de cara nas primeiras cenas nem parece que trinta anos se passaram. É incrível como a essência divertida de Axel Foley continua intacta e como ela vai ser tornando conflitante com os tempos atuais é que torna mais divertido ainda esse "choque" de gerações. Mas está lá o elenco de apoio, os velhos rostos conhecidos que dão a dinâmica para as peripécias de Axel Foley nos tempos atuais funcionarem de forma convincente. As cenas de ação são interessantes, pois mantiveram efeitos práticos, ou seja, vamos para as ruas destruir alguns carros, pilotar um helicóptero e fazer algumas explosões reais. Mais anos oitenta que isso impossível, mantendo assim o tom e a ambientação que remete a uma nostalgia imediata, ainda mais quando no terceiro ato há o reencontro desses veteranos icôncios, levando os fãs oitentistas ao delírio.

Apesar de o filme ter tido uma considerável bilheteria na época, o longa-metragem flopou miseravelmente em trazer o herói de volta para as telas grandes no ínicio dos anos 2000. A Warner quis pegar carona na onda dos filmes blockbusters de heróis que estavam no auge, mas falhou em trazer sua própria "identidade" ao longa e ao cast. E não digo que o fator determinante para isso foi a escolha equivocada por Brandon Routh ou elenco de apoio, foi mais pelo fato de trazer uma trama morna desprovida de emoção e de um enredo coeso. Sua linha do tempo é confusa, se resumindo apenas a meras homenagens entre um plano e outro de ação aos filmes da era Christopher Reeve, que no fim das contas acabam soando vazias e plásticas. Na época assisti no cinema, fui empolgado pois eu acreditava que um cineasta do calibre de Bryan Singer que anteriormente tinha dirigido dois ótimos filmes da franquia X-Men poderia entregar algo respeitoso ao legado do Superman, ledo engano.

ERIC é mais uma excelente série que acerta muito bem o tom em todos os aspectos. A Netflix tem entregado melhores enredos em suas séries limitadas do que em seus longa-metragens vazios e sem alma. ERIC tem emoção e reflexão de sobra, te pega pelo braço e não solta até o fim desse "busca" reflexiva e comovente. A performance de Benedict Cumberbatch é tão densa e competente que nos deixam imersos na narrativa. E não somente sua interpretação conduz tudo, o elenco de apoio também sustenta a trama com maestria nesse "passeio" entre sensações. É incrível o quanto o roteiro reflete vários temas sem se perder na narrativa. Drama familiar, alcoolismo, corrupção, homossexualismo, vícios, tudo isso em um pano de fundo oitentista. Uma década que por si só era assustadoramente carregada de preconceitos (não muito diferente do que é hoje em dia). ERIC no fim nos faz refletir que existem monstros dentro de nós mesmos que podem ser superados. E que no fim tudo pode acabar bem. É tão comovente e tocante que é impossível não se emocionar com seu desfecho.

Pelos episódios iniciais achei uma das piores séries de todo canône da saga Star Wars. Pouco inspirada e sem grandes emoções. Roteiro raso e personagens e elenco sem carisma. E que até se mostra desrespeitosa aos verdadeiros fãs de Star Wars em certos pontos. Cito como um dos exemplos disso o fato de Jedis serem tão ingênuos ao ponto de serem tapeados facilmente e mortos de maneiras patéticas. Roteiro ridículo que reduz o legado dos Jedis a nada. Por se tratar da velha República o mínimo que se deveria retratar com exatidão nesse período é que os Jedis fossem um pouco mais inteligentes. E sem falar na lacrate descarada. A protagonista principal não inspira empatia alguma. Não seguirei adiante nessa jornada medíocre e sem inspiração, que em nada lembra ou reverencia Star Wars.

Furiosa: Uma Saga Mad Max é mais um grande acerto do cineasta George Miller. Esse spin-off de Estrada da Fúria é insano, feroz, violento e veloz na medida certa. Um dos maiores pontos positivos do filme é sua elipse de tempo. A divisão em capítulos é interessante, não tinha sido utilizado em nenhum filme da saga até então. O que foi muito benéfico para o desenvolvimento da trama. E essa divisão de tempo entre Furiosa na fase criança e adulta é bem estruturada. É bem diferente de filmes de origem habituais, em que geralmente a personagem principal em seu período de infância é retratada em poucos minutos de tela. Mas vemos aqui como George Miller é genial e dedica quase um terço do filme para o desenvolvimento de Furiosa em sua fase de infância. E é algo óbvio, pois é o ponto mais importante da trama até para o desenvolvimento da personalidade da Furiosa adulta. Anya Taylor-Joy entrega uma performance sólida, e Chris Hemsworth rouba a cena com seu Dementus. E o longa é pragmático em todos os aspectos,sua estrutura narrativa de ação sempre muito bem focada e elaborada em embates climáticos longos e épicos. Vejo muita gente por aí torcendo o nariz para o CGI do filme, mas os efeitos visuais funcionam perfeitamente onde eles tem que funcionar. FURIOSA é um deleite para os olhos, mais uma grande obra-prima MAD MAX feito com coração e inspiração para os fãs.

É um dos poucos filmes sobre Godzilla que se preocupa realmente em desenvolver bem o roteiro e personagens. O filme é muito interessante pois aborda essa narrativa pós Segunda Guerra Mundial. Um Japão recém recuperado das "feridas" de guerra e tendo novamente que enfrentar uma catástrofe iminente, dessa vez através das devastações causadas pelo Godzilla. A trama é bem elaborada e conduzida, até mesmo os personagens "coadjuvantes" tem seu tempo de tela bem desenvolvidos, criando um elo de empatia simultâneo. Os efeitos visuais são incríveis, talvez o melhor dessa franquia do monstro Japonês. E desbancando efeitos que nos últimos anos tem desejado muito a desejar, exemplo mais claro é dos filmes da Marvel que estão bem abaixo comparados a essa obra japonesa. É o Oriente ensinando ao Ocidente como se faz, não é a toa que Godzilla Minus One ganhou o Oscar de melhores efeitos, muito merecido. Assistam a versão preto-e-branco, ela é muito mais interessante pois além de dar um tom mais realista e sombrio ao monstro e a narrativa, traz ao filme uma estética e fotografia bem interessantes, como se fosse um longa-metragem rodado na época pós Segunda Guerra Mundial.

É o pior filme da franquia disparado. Carece de roteiro e principalmente de ritmo. A grande "ameaça" da história só aparece no terceiro ato e tudo é resolvido de forma pífia em dez minutos. Nem apelar a nostalgia salvou o filme. Mais uma vez os Ghostbusters originais são reduzidos a pouco tempo de tela, dando espaço novamente para desinteressante família Splenger. Jamais deveriam ter ressucitado a franquia. Ghostbusters Afterlife também já tinha sido desinteressante, mas Frozen Empire conseguiu superar sua mediocridade com êxito. A ganância caça-níquel Hollywoodiana conseguiu afundar uma franquia promissora ao limbo.