Ao conferir os indicados a Filme Drama no (irrelevante) Globo de Ouro, logo fui conferir alguns trailers, e alguns filmes me chamaram a atenção, como 'CODA' e outros ficaram só na margem do "ok, vamos conferir", e este foi o caso de 'The Power of the Dog'. Não que eu tenha subestimado o filme, mas ao ver o trailer eu não esperava algo tão bem construÃdo, algo tão bem montado, interpretado, com tanta tensão e entrega.
Dirigido por Jane Campion, 'The Power of the Dog' é uma pérola do cinema moderno, onde Campion roteirizou encima da obra original de Thomas Savage.
O fato do filme se passar na década de 1920 nos dá a impressão de que o longa terá um teor mais calcado no faroeste, mas a verdade é que o filme não tem nada disso, ele trata de temas mais fortes e sensÃveis ao mesmo tempo, como rivalidade, machismo, inveja, ganância e um dos olhares que mais gostei, o homossexualismo escondido nas bandas mais simples da sociedade americana.
Fica muito implÃcito nas falas de Phil (Benedict Cumberbatch), onde ele cita seu grande amigo e "Ãdolo" Bronco Henry, que ele teve um certo tipo de relacionamento com o mesmo, indo além do aprendizado e admiração... faceta que também encontramos em Peter (Kodi Smit-McPhee) desde sua primeira cena no longa, o jeito como ele se porta, como age, como fala. O filme nos passa que o homossexualismo naquela época era comedido, quem era, ao bater o olho em alguém, sabe, ou suspeita, mas não fica implÃcito para as demais pessoas que você pode ser, e ainda mais pelo filme se passar no interior dos EUA, onde o estilo de vida faz com que os homens sejam mais durões, mais machos, mais egoÃstas, aqueles que são homo ou bissexuais, acabam se escondendo em personagens e posturas afim de manter sua integridade e posição em relação aos demais camaradas que o cercam, ou o seguem.
Esse foi um ponto excelente da 'novela' (afinal, 'The Power of the Dog' pode ser considerado uma novela, um conto ou um romance se preferir) que eu gostei muito, como é bacana você apresentar um personagem ao público onde ele se caracteriza como tal, e conforme o filme avança ele começa a se desconstruir na sua frente e mostrar sua verdadeira faceta. E essa verdadeira faceta, tanto de Phil como de Peter, não está só no homossexualismo escondido nos dois, mas sim, na velha tratativa de mocinho e vilão.
Não dá exatamente para caracterizar quem é o justo na história, quem é o vilão da história, o mais bacana de tudo é ver como o roteiro nos apresenta Phil como o vilão, como o ser sórdido, como alguém totalmente desprezÃvel, e como mostra Peter como alguém doce, sensÃvel, inofensivo... ao mesmo que nos mostra Rose (Kirsten Dunst) como uma mulher mais amargurada, sofrida, sem forças, sem personalidade, entregue ao álcool... e que ledo engano nós somos levados a crer nestas facetas.
'The Power of The Dog' é um dos melhores filmes desta temporada de premiações, e tem tudo para dar o primeiro Oscar de melhor Filme para a Netflix, é um dos principais favoritos, e tem muita força... como é um filme que esconde muita coisa nas entrelinhas e tem força nas personalidades dos personagens e na quebra de facetas e rótulos, pode não agradar boa parte do público que pode se enfadonhar com facilidade pelo fato do filme ter poucos acontecimentos que chamem a atenção do público... porém, é inegável salientar que é um filmão de primeira linha, com um roteiro impecável e muito bem escrito e adaptado por Jane Campion. O meu favorito ainda continua sendo CODA - No Ritmo do Coração, mas terá minha vibração se levar a principal estatueta do ano.