Thiago Costa Fernandes

Em termos técnicos, é um trabalho adequado: boa fotografia, direção enxuta, montagem simples. Em termos narrativos, algumas pessoas podem se perder entre as cenas já que, às vezes, há saltos temporais de semanas, meses e anos sem que isso fique claro. Em termos de ritmo, a série entrega o que promete: algo lento, comedido e trágico. Muito parecida com os mitos gregos. Há licenças e personagens mesclados (Aquiles e Ájax maior; Palamedes e Diomedes...). Como os mitos gregos possuem várias fontes, versões e finais distintos, foram feitas escolhas diversas para dar um ar mesclado entre o fantástcio dos mitos e o realismo das guerras. Quem busca ação ou algo romântico ao estilo do filme Tróia estrelado pelo Brad Pitt deve passar longe. O filme não foi fiel a nada da mitologia ou da época, mas a série é, e isso a torna mais lenta, menos romântica, com desfechos melancólicos perturbadores em alguns casos - do jeito que as tragédias gregas eram. Quem está preocupado com besteiras como "lacração" ou "politicamente correto" não vai encontrar nada disso, no entanto, há, sim, relação homoafetiva e mulheres relativamente fortes, mas isso estava presente nos mitos e na sociedade grega da época representando, portanto, mais um item de fidelidade aos muitos materiais originais. Destaque para os protagonistas: *Alexandre Páris é um homem movido por desejo que não entende as consequências dos seus atos até ser tarde demais. *Helena é uma mulher desesperada e infeliz que se deixa contaminar pela ingenuidade de Páris e descobre tarde demais que o que ela busca não existe. *Heitor, como sempre, é o herói modelo: bom filho, bom guerreiro, bom líder, bom esposo. *Menelau é o caçula um tanto simplista, bruto e desajeitado em tudo o que faz (não de um jeito cômico). *Agamemnon é o rei ganacioso movido pelo desejo de poder e por uma loucura desmedida causada pela morte da filha. *Aquiles (que aqui representa também o Ájax maior) é o guerreiro nobre, tão nobre, que não encontra lugar entre os demais humanos, pois acredita em utopias como honra, decência e orgulho, que são as coisas que interessam a ele. *Cassandra, infelizmente, pouco abordada, é a pessoa que consegue enxergar as consequências, mas a quem ninguém dá ouvidos. Repito: a série é adequada e entrega o que promete, mas não promete ação nem romance, apenas tragédia; é fiel à mitologia, porém precisa escolher, a cada cena, de quais fontes trazer a versão que considera mais adequada para a montagem em tela.