Baseado no conto de Ted Chiang, o filme “A chegada”, que tem como diretor Denis Villeneuve, conta a vinda de seres de outro planeta à Terra, em 12 naves. Para decifrar o motivo dessa invasão, o coronel Weber (Forest Whitaker), convoca a professora de linguística Louise Banks (Amy Adams) e o físico teórico Ian Donnelly, (Jeremy Renner).
Costumamos chamar estes seres de alienígenas, mas no enredo eles também ganham o nome de “heptápodes” por possuírem 07 membros. A todo momento, os humanos se sentem ameaçados e amedrontados, mesmo sem nenhum contato agressivo por parte dos aliens. A China, encabeça uma ação de ataque, enquanto Banks e Ian se desdobram para tentar compreender a mensagem e estabelecer uma comunicação com os invasores. Mas a não linearidade dos fatos intriga quem assiste, pois o passado, o presente e o futuro se entrelaçam.
Estes seres emitem sons e descrevem símbolos peculiares, que consideramos ser a sua forma de escrita, mas que não representam os sons emitidos por eles. Podemos intitular tais elementos de signos, visto que eles ganham um valor na relação uns com os outros, mesmo que Saussure e principalmente Chomsky, considerem que a linguagem seja uma propriedade exclusivamente humana (ou será, que catalogamos isso apenas no que se encaixa ao nosso entendimento de língua e fala?). Um exemplo é descartamos que os animais possam falar, visto que assim como os heptápodes, nós não compreendemos a sua forma de se comunicar? Acredito que sim.
O contato e compreensão de Banks com a língua dos invasores faz com que ela veja o mundo como eles enxergam. Essa é uma característica clara e citada na ficção quando ela menciona a hipótese forte de Sapir-Whorf, que consideram que os pensamentos e comportamentos são determinados pela linguagem.
À beira de uma guerra, Louise entra na concha dos heptápodes. Após o diálogo com um deles, ela começa a ver o futuro, primeiramente sem compreendê-lo, mas depois, ela explica a todos a não linearidade no tempo dessas criaturas e o significado da “arma” que, na verdade, é a sua língua, um presente deles à humanidade, que precisa ser salva. Quem compreende sua língua, passará a ter a mesma noção de tempo que eles e é isso que permite a Banks ir no futuro, conversar com o general da China, saber seu número de telefone particular, saber a frase que sua finada esposa havia dito antes de partir, ligar para ele no tempo “presente” e assim, fazê-lo mudar de ideia e conseguir estabelecer a paz.
Ao evitar o ataque, todas as nações recuam e as naves vão embora da Terra. Compreendemos, ao final do filme, alguns dos “flashes” protagonizados por Louise como o mistério do seu esposo, que nada mais é que o físico Ian, com quem tem uma filha que aparece no início da história.
Diante o exposto, considero “A Chegada” um filme intrigante, complexo e fascinante. As relações de poder, sobretudo da linguagem versus ciência, da política entre as nações, do exército diante os conflitos. Nós, humanos, que por diversas vezes nos colocamos superiores, somos questionados pela forma determinante de ver o mundo e comandá-lo. Será que somos mesmo o topo da hierarquia? Vale a pena conferir a trama, as suas teorias linguísticas e questioná-las como um todo.