Poliana Guerra

"Quis ver os quintais das casas para poder me ocupar imaginando as vidas por trás das roupas nas cordas nas árvores frutíferas e nos balanços. Quis pensar em alguma coisa, qualquer coisa, para assim não precisar mais sentir. Quis piscar os olhos e me livrar do líquido que os umedecia." Kambili conversa comigo. A protagonista de Hibisco Roxo tem o dom da linguagem, mas é no olhar que ela carrega sua diferença, beleza maior. Seu jeito de ver, e depois descrever, é diferente, mas de uma diferença compartilhada, que todos temos no canto do olhar e não tornamos pública. Por indiferença, vergonha, juízo ou qualquer outra DESclassificação da coisa em si (e em mim). Nos meus comentários, uns spoilers ligeiros. Acabei de ler hoje e chorei várias vezes, de uma emoção gostosa de compartilhar com a personagem algumas sensações, pensamentos e sentidos, mas também por sua trajetória sofrida, filha de um pai autoritário, violento, de moral severa, mas também amoroso e socialmente justo. Difícil equacionar valores sociais inquestionáveis com um patriarcalismo íntimo ferrenho e sem medidas. Kambili, apesar de todas as adversidades de um pai tão restritivo, tem uma vida de privilégios (por sua classe social), mas, paradoxalmente não experimenta e não VIVE quase nada, pelas restrições do pai. Quando ela vai passar uns dias na casa da tia pobre, IFEOMA, é muito lindo vê-la experimentando a humanidade de ajudar a arrumar a casa, ter limite na comida, não ter dinheiro para comer carne todos os dias ou para ter o que quiser (ou mesmo o que precisa). E seu amor pelo Padre Amadi... Ahhhh, quase morri com este amor tão pudico, proibido, inflamado e inocente. Que delícia, contemplá-lo nos olhos dela... Li Hisbisco Roxo junto a outros dois pocket sobre Feminismo da Chimananda, que me emprestou o @linhares.vinicius. E foram um complemento maravilhoso, diante do patriarcalismo que o primeiro ostenta. Gracias, Vinícius, sigamos nesta deliciosa troca de valor! Na segunda, o Hibisco Roxo é teu! P.S.: Na trilha sonora, @felakutiofficial jazzista nigeriano, paixão compartilhada com Kambili, a protagonista! #hibiscoroxo #chimamandangoziadichie #nigeria #literatura

A autocrítica de Gabo o fez não publicar este livro, em função de falhas progressivas, relativas à idade e à memória! Sua família nos salvou desta ausência, que seria, sim, um falta. Perdoa, Drummond... Mas, sua genialidade literária se sobrepõe a imperceptíveis falhas aos nossos olhos, amadores e apaixonados. Sua trama sexy e leve nos conta a história de Magdalena, senhora de família que, por intercorrências da vida e da morte, se permite, uma vez por ano, sair de si e se entregar a desejos efêmeros e a uma 'luxúria' programada e idealizada! Gabo seguiu nos entregando seus mundos com uma inventividade perfeita! Imperativo para os fãs: leiam!