O que podemos dizer de um filho de escravos que foi impedido de frequentar os bancos escolares, era gago, epilético, aprendeu francês com um padeiro, escreveu seus primeiros contos ainda adolescente, fundou e presidiu a Associação Brasileira de Letras, e teve seu talento reconhecido ainda em vida? Nos dias atuais já seria uma façanha e tanto, imagina conseguir tudo isso num Brasil escravocrata. Joaquim Maria Machado de Assis, esse é o nome dele; que driblava as letras, do mesmo modo que Pelé driblava uma bola. Machado de Assis tem construções frasais desconcertantes. Você vai lendo, certo da previsibilidade da frase, e ele te dá cada olé. Ler Machado é o mesmo que sair vencido de uma partida de futebol e ainda assim ficar feliz.