A Passarola pode ser considerada o último mito do mundo tradicional e o primeiro mito do mundo moderno ao mesmo tempo. Em si mesma invoca as histórias de fantasia dos romances cavalheirescos medievais e heróicos da antiguidade, ao mesmo tempo em que traz a aura de misticismo que falta à revolução científica. Aquilo que só muito depois a ficção científica traria, o realismo fantástico, está presente no mito da Passarola. Considero-a o elo de ligação entre os mitos heróicos de bravura e superação do mundo tradicional e os mitos científicos do herói moderno que luta contra as trevas da ignorância medieval.
O mito que cresceu em torno dela mostra um padre Gusmão fugindo da inquisição voando sobre os céus de Lisboa na primeira metade do século XVIII. Com pessoas gritando assustadas enquanto soldados atiravam flechas contra o demônio voador do padre herético. O mito constrói com isso o herói da modernidade: o cientista que foge da fogueira da inquisição voando com seu invento para longe do poder da ignorância de sua época. Na literatura a passarola aparece em "Memorial do Convento" de José Saramago, mas no romance de Azhar Abidi, "Passarola Rising", o Padre e seu irmão Alexandre são os personagens principais que dão vida ao mito científico mais encantador que se possa ler.