Poderia ser um episódio de Black Mirror, visto que põe em evidência possÃveis implicações da evolução técnico-cientificas em detrimento da evolução humana, enquanto ser-para-a-morte e para-o-outro, mas no formato de um episódio independente duma série procedimental a cadência dos eventos para um desfecho em 50min não tornaria a estória tão emocionante como fora no formato de longa-metragem, pois a revelação paulatina da personalidade e história de vida de Sam nos permite desenvolver autêntica empatia. Ressalto que, diferente de Black Mirror, Moon explora tanto o viés tecno-otimista quanto o tecno-pessimista, este das implicações da clonagem para subversão do paradigma ético que permeia as relações humanas, onde o clone não goza dos mesmos direitos que os demais seres humanos e aquele da possibilidade de inteligência artificial humanizada, quiçá mais sensÃvel ao sofrimento e necessidades dos que dependem dos seus serviços que o próprio ser humano. Apesar de fiel à s descobertas cientÃficas deste século, no que tange a fontes de energia alternativa, o enredo de Moon está mais focado no drama do que significa ser humano, em sentido amplo, do que nos pormenores de como seria uma viagem espacial e colonização doutros astros. A questão é: tendo em vista a efêmera expectativa de vida de um clone, uma vez nascido com memórias pré-concebidas, um passado pré-concebido e uma parcela de vida ´pré-definida, o que nos motivaria a superar tal programação? O que tomarÃamos como nossa missão, função, destino, proposito... cientes de que somos apenas uma peça produzida em massa, cujo propósito é mover as engrenagens da máquina econômica? Uma obra de argumento simples, mas o seu valor não está em diálogos marcantes, cheios de frases de efeito sobre amor, perseverança e afins, mas na exposição das emoções de um personagem que poderia ser qualquer um de nós: proletários, versões menores de grandes homens, como um clone, que acredita ter vencido na vida por servir a uma grande empresa, ao passo que não vê a hora de dedicar-se integralmente a quem ama ou ao que ama fazer de verdade. Enfim, ser humano tende a ser o mesmo independente do contexto técnico-cientifico e do seu lugar no universo.