Confesso que a premissa do filme não empolgou em primeira instancia porém, com o desenrolar da trama, as entrelinhas ficaram mais intrigantes e o desfecho não poderia ser mais trágico e belo ao mesmo tempo. Cheio de simbolismos e referências geracionais, o filme expressa de maneira sutil, a influencia nociva que o pensamento e as atitudes dos mais velhos podem ter sobre os mais jovens, ainda que não intencionais ou que apareçam travestidas de boas intenções e protecionismo.
Nesse caso o filme faz referência a um pensamento feminista recorrente que é o de demonizar o homem, atribuindo a figura masculina a razão dos infortúnios das mulheres. Para isso o roteiro se utiliza da figura imaginária do "homem cinza, que pode estar em qualquer lugar, vem com as tempestades de areia, pode penetrar pelas frestas das portas e janelas e cuja intenção é fazer mal, fazendo com que suas vitimas "façam coisas". ´
Além dessa referencia, o filme mostra a luta das filhas da protagonista para acreditarem e fazerem o que sua mãe diz, mesmo desconfiando ou até sabendo que não é bem assim.
Neste cenário, em que as constantes e sufocantes tempestades de areia que representam os nossos problemas e vicissitudes diárias que por vezes nos impedem de irmos aonde queremos e fazermos o que precisamos fazer, existe a lei, representada pela figura masculina do xerife, e a medicina na figura de um médico que pouco aparece.
O assassinato da amiga da protagonista, pela mãos própria protagonista faz alusão a morte moral daquelas que não compartilham da mesma visão ideológica.
A descoberta de que o sonambulismo da mãe (ela está de fato sonhando acordada) está arruinando a vida de todos ao redor, é impactado pela descoberta de que ela não queria ficar sozinha. Que o seu sonambulismo foi a forma que a sua mente doente encontrou para fazer tudo o que fosse necessário para manter todas elas juntas.
A mãe: "Não volte a falar nunca mais do sonambulismo. Não conte a ninguém"
A filha: Por quê você está fazendo isso mamãe?"
A mãe: "Por quê? Para proteger vocês...."
... você não entende, todas vocês sou eu. Partes minhas, pedaços amputados que nunca se curam. Eu sangro quando se ferem"
Esse tipo de pensamento é o que estava impedindo as outras mulheres, as mais jovens, de seguirem suas vidas e fazerem suas escolhas. Ninguém é responsável pelas escolhas dos outros, nem tem o direito de impor, controlar ou impedir caminhos a serem seguidos. Por melhores que sejam as intenções.
A paranoia segue até o inevitável desfecho quando a mãe sai em desespero a procura da filha mais nova que, na verdade não havia saÃdo de casa. Foi um engodo engendrado pela filha mais velha, para que ela finalmente tivesse a chance de cortar a corda que a mãe usava para entrar na tempestade e poder voltar pra casa. Cortando assim o laço com a má influencia amorosa da mãe e deixando-a entregue a morte em meio aos problemas e vicissitudes trazidas pela tempestade.
O filme termina com as duas mulheres jovens deixando a cidade.