Raul Vieira

O tema que Locke se propõe é de difícil abordagem, de fato. Tratar do pensamento humano e o que é o ato de "conseguir entender" ou como nossa consciência funciona; além da forma como apreendemos conhecimento pelo entedimento cognitivo. Mas a escrita super truncada, o fato dele escrever demais sobre questões menores e a falta de exemplos reais, acaba tornando um livro exaustivo e difícil de acessar intelectualmente. É um livro muito feito para quem, realmente, está fazendo um trabalho acadêmico, na minha opinião. O entendimento de que ideias e princípios não são inatos é o que dá maior riqueza à obra como um todo.

Nesse livro, o Reed coloca a visão cotidiana dele vivendo no Smolny principalmente. Mas ele também faz uma visão geral e ampla sobre o processo revolucionário durante o apogeu do acontecimento. Ele traz diversas notícias, cartazes, planfletos, comunicados... para fazer uma visão geral sobre como ocorrera a Revoução e por quais caminhos ela adentraria. É um livro que mescla análise de conjuntura política somado à vivência na Russia, em síntese. É bastante comum você se perder um pouco quando ele fala sobre "soldados cosacos", "Guardas Brancos", "yunkers"... pois é muita informação. No entanto, pare e pesquise sempre, quando necessário, essas nomenclaturas todas para não se perder. Em geral, não espere um livro "chapa branca" ou que exalte a Revolução. Neste livro você terá uma visão crua e muita dura sobre as coisas. Aqui você verá uma figura bem nítida de quem é o Trotsky realmente. Um jovem intelectual que vê muito bem os joguetes políticos e sempre preocupado da tomada do operário russo ao poder. As aparições de Lenin são mínimas aqui e são citadas em momentos onde ele fala ao público.

"A fórmula mais universal, que se encontra na base de toda e qualquer religião, assim como de toda e qualquer moral, é: "Faze isso e isso, deixa isso e isso! Assim, tu te tornarás feliz!" No outro caso... "Toda moral, bem como toda religião resume-se a esse imperativo: eu o denomino o pecado hereditário da razão, a irrazão imortal. Em minha boca, esta fórmula metamorfoseia-se em seu inverso. - Primeiro exemplo de minha "transvaloração de todos os valores": um homem bem constituído, um homem "feliz", precisa empreender certas ações e fugir instintivamente de outras, Ele insere em suas relações com os homens e as coisas a ordem que apresenta fisiologicamente. Para exprimir através de uma fórmula: sua virtude é a conseqüência de sua felicidade... Uma vida longa, uma rica prole não são a paga pela virtude." (OS QUATRO GRANDES ERROS, aforismo 2)

Esse livro trata da visão de Montaigne a respeito de uma diversidade de temáticas inerentes à vida, como, por exemplo: as formas de morrer, a relevância da amizade, os desconfortos quanto ao corpo, a sabedoria da vivência sendo superior ao conhecimento academicista... Montaigne se detém em assuntos simples a todos os seres; a escrita dele é truncada e cheia de pequenas citações dos clássicos (Ovídio, Seneca...); e é totalmente pautado na subjetividade.

Este é um romance que não tem uma estilística tão elevada na escrita se comparado aos clássicos do Machado. Por ser uma obra ainda inicial, é possível perceber um Machado de Assis ainda tímido na escrita. O enredo é muito dramático, pois se trata de um choque muito grande entre duas personalidades. Félix é um médico solteirão que sempre usa as mulheres num período de seis meses para descartá-las logo em seguida. Lívia é uma viúva que tem um filho muito amável, além disto, ela tem um bom patrimônio herdado do marido. Eles se apaixonam ardentemente. Todavia, esse romance é pautado por conflitos intensos durante toda a obra devido ao ciúmes extremos e ao arrependimento contínuo de terem doado seus corações reciprocamente.

Esta obra utiliza bastante da liberdade poética para a descrição, além disso, contém um rebuscamento e uma estilística de escrita muito própria para os moldes vitorianos de romance. Ele demonstra de forma muito explícita o excesso de polidez nas relações conjugais. Quem gostou d'O Ateneu (do Raul Pompéia), certamente gostará desta obra também. O enredo em si tem o intuito de chocar o leitor quanto à cultura antiga da sociedade brasileira, que era a de "comprar" cônjunges por meio dotes de réis; a crítica é pautada no que tange a como dinheiro é um adversário para se estabelecer relações amorosas profundas.