A ÚLTIMA coisa que esse filme deve ser classificado é como uma comédia, muito menos "feminista"! O que assistimos é a história da vida miserável de uma escrava, digo uma mulher (a atriz também é a diretora) na Itália pós ll Guerra, casada com um misógino violento que a humilha e espanca constantemente na frente dos filhos por qualquer "deslize". É revoltante assistir a sessão de tortura - com plateia eventualmente rindo de situações totalmente constrangedoras - de uma personagem sem esboçar qualquer reação até o derradeiro suposto final redentor, quando ela urde todo um plano de fuga...somente para votar nas eleições italianas. Esse seria o dito final "feminista" do filme que consegue musicar uma sessão de espancamento dessa desgraçada como se fosse um balé. Francamente, se a intenção da diretora foi despertar alguma comoção e simpatia dessa mulher, o resultado foi o oposto. E pior: o filme acaba por banalizar - com suas tiradinhas "simpáticas", daà a classificação infame de "comédia"- a condição terrÃvel de muitas mulheres até os nossos dias. E é prova que filme que faz "sucesso estrondoso nas bilheterias" não é, em absoluto, garantia da qualidade da obra!
Para finalizar, segue trecho de uma crÃtica publicada no site português c7nema, que ilustra bem meu ponto de vista.
"Há algumas cenas do filme, feitas para chamar a atenção dos espectadores, nas cenas em que o marido de Délia a espanca, a realizadora cria uma dança coreográfica e amorosa, o que me incomodou muito enquanto mulher, pois senti que tal estetização suaviza a violência feminina, além das marcas de agressão do marido, que no filme se apagam no corpo de Délia como num passe de mágica. Penso que existem outros modos de interpretação que não precisam maquilhar a violência, nem tão pouco reforçar como fazem interpretações mais incisivas. Délia representa todas as mulheres vÃtimas de violência doméstica. Eu nunca sofri isto, mas não creio que seja confortável e afetuoso ser espancada e depois ir dançar com o agressor. A opressão contra as mulheres, sejam pobres ou ricas, ainda persiste, precisa ser reconhecida e afrontada pela sociedade."