Amanda Maia

Dirigido por Walter Salles, Ainda Estou Aqui (2024) é mais do que um relato biográfico sobre Eunice Paiva e o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira. O filme se apresenta como uma reflexão crua e poderosa sobre as cicatrizes deixadas pela história, ressoando profundamente em um Brasil que ainda luta para encarar as sombras de seu passado. O longa começa de forma intimista, com um ritmo que permite ao espectador mergulhar nos silêncios e nas expressões contidas da protagonista, interpretada magistralmente por Fernanda Torres. Sua performance vai além do óbvio: Eunice é uma figura de dor contida, cuja resistência se manifesta nos detalhes – o olhar fixo, os gestos mínimos, as pausas que carregam a dor de uma vida marcada pela ausência e pela busca incessante por justiça. A direção de Salles adota uma abordagem visual marcante, onde espaços vazios e tons frios na fotografia traduzem não apenas a solidão de Eunice, mas a ausência irreparável de Rubens. A trilha sonora quase sussurrada complementa essa estética, criando uma atmosfera que é tanto melancólica quanto inquietante, ecoando o peso da memória coletiva de um país. Apesar de sua força emocional, o filme ocasionalmente cede a diálogos que parecem subestimar o espectador, oferecendo explicações desnecessárias sobre o contexto histórico. Ainda assim, essas escolhas não comprometem a experiência como um todo, sustentada pela força do roteiro e pela presença de Fernanda Montenegro, cuja breve aparição reforça o peso geracional dessa luta por memória e verdade. No desfecho, Ainda Estou Aqui entrega uma mensagem honesta e incômoda: o silêncio, muitas vezes, perpetua a opressão tanto quanto os atos que tenta ocultar. É um filme que não oferece respostas fáceis ou catarse; ao contrário, desafia o espectador a refletir sobre a responsabilidade de lembrar e, mais importante, de agir. Ainda Estou Aqui é, em essência, um lembrete doloroso da urgência de confrontar nosso passado para que ele não defina nosso futuro. É uma obra que reverbera muito além da sala de cinema, marcando o público com sua intensidade emocional e sua relevância histórica.