Não é um filme, é um sentimento.
(CONTÉM SPOILERS!!!!!)
Aftersun é uma obra acima de tudo sentimental e que nas almas mais sensÃveis ele pode ter tocado em lugares pessoais mesmo que o filme, de certa maneira, tenha uma inspiração numa "experiência" das férias que a diretora Charlotte Wells passou com seu pai e acredito que com essa informação só se torna ainda mais especial.
A maneira como o filme começa com o vÃdeo gravado pela câmera antiga mas que não necessariamente foi o primeiro vÃdeo daquela viagem ( como quando você abria sua câmera antigamente e você via primeiro o vÃdeo/foto que você tinha gravado por ultimo), crava a ideia de que Sophie por mais que sentisse falta do pai e quisesse realmente lembrar de tudo, ainda precisava de ver as filmagens e assim, colocando em ordem cronológica ( você pode ver a mesma cena do começo em outra parte do filme e supor isto) pra resgatar pouco a pouco suas memórias fragmentadas.
E falando em memórias, no filme vemos 90% das coisas pela lente da Sophie, uma pré adolescente de 11 anos ou seja: um pouco de rebeldia, curiosidade, insegurança, e claro, amadurecimento. Ao longo do filme diversas são as cenas em que essa fase da vida da Sophie é apresentada ao telespectador e é quase que uma injeção de nostalgia no cérebro, principalmente para o público feminino.
Partindo da ideia de que são suas memórias, vemos o que a sophie viu ou, pelo o menos, se lembra. E caminhando nessa linha de pensamento se nota que por conta desse impasse, não há uma margem extensa para a vida do Calum, seu pai. Você não sabe realmente o que aconteceu com o pulso dele ou com o seu ombro, porque a Sophie também não sabe e o que se tem são apenas suposições ( que aproposito a Sophie também deve ter feito depois de adulta).
Calum definitivamente tem traços depressivos e que você facilmente consegue presumir através não só dos diálogos mas pela sua aura melancólica, e mesmo assim, ele tenta deixar isso estritamente interno: ele não se despede da filha como se fosse a ultima vez que fosse vê-la ( apesar de provavelmente ter sido) ou dá relevância a sua mudança de humor repentina, ele simplesmente quer fazê-la feliz naquelas férias e nada mais importa ( "e o amor desafia você a mudar nosso modo de
nos preocupar com nós mesmos" - Under Pressure). Pelo filme pode-se entender que Calum teve uma infância difÃcil e nunca se tornou parte de onde viveu então provavelmente não se encaixava dentro de sua própria famÃlia, foi pai cedo (provavelmente com 20-21 anos), passou por um divórcio com a mãe da Sophie que aparentemente foi quem o ajudou em questões emocionais (pode-se notar quando ele diz "eu te amo" para ex esposa e defini-la como famÃlia), passou por relacionamentos com pessoas com quem fez planos e nada deu certo, também não tem dinheiro e muito menos uma expectativa de um futuro, de uma vida. E naquela altura do campeonato a única felicidade de Calum era a Sophie, não é atoa que em várias cenas ele assiste e réassiste as filmagens quase como se quisesse fixar cada segundo dentro da sua própria mente.
Aftersun é um filme perfeitamente visual, pois não te prende a diálogos extensos e dramáticos, ele te da os diálogos necessários. As memorias são filmagens antigas e as filmagens antigas são memórias. O filme que consegue fazer com que o telespectador desfrute de um momento de silencio ou que consegue da a devida visibilidade aos detalhes e emoções tem o seu lugar, e Aftersun tem essas duas coisas.
FICOU GIGANTE!!! mas o google não quer deixar escrever mais </3