Ontem à noite, tive o ensejo de assistir ao célebre Intestellar, o filme segundo a lÃngua dos professores e dos entusiastas da Ciência é a mais fiel ficção cientÃfica da teoria da Relatividade de Einstein.
 Na verdade, o que me instigou ao terminar as mais de duas horas foram duas coisas: primeiro, por que acaba daquele jeito, parecendo que vai ter uma continuação? Segundo, quantas reflexões! Não cabem em uma só coisa.
 A ambientação é feita num futuro distópico da Terra, onde nem todos seres humanos tem acesso à educação de qualidade e os recursos, como água e terra fértil são escassos. Isso, por sua vez, explica falta de percepção da sociedade civil sobre o que realmente está acontecendo. Os professores negam até mesmo que já se foi à Lua.
O mundo está morrendo, as plantações não vingam e a poeira encobre tudo. Somente um grupo seleto de cientistas, que mal chegam à população sabem da irreversibilidade desse processo e põem todas as suas esperanças em executar uma solução para os terráqueos.
 Diversas contradições representam o mundo que supomos não ser hoje: negacionismo × busca por conhecimento cientÃfico, intransparência × inclusão, arrogância × preponderância... . Em segundo plano, as pessoas que gastam energia tentando migrar de um lado para outro, inutilmente, não sabem que não há solução se tudo retrocede como está.
 O protagonista astronauta, muitiprofissional e altruÃsta é uma figura cinematográfica questionável. O carisma de ser humano perfeitamente racional simboliza o que há de mais apolÃneo, em detrimento do dionisÃaco que nÃnguem gosta de admitir. Esse aspecto não foi ressaltado ao acaso, veja. O fato de nos consideramos em muitas instâncias donos da própria razão gera o problema do filme que é o que nos faz humanos? Quais os limites do nosso corpo em contraposição à nossa consciência? Em uma cena do filme o Dr. Mann decide abandonar a tripulação que o encontrou, então tenta assassinar (a estrela do filme) Sr. Cooper, quebrando o capacete dele, que fica sem oxigênio. A tecnologia é capaz de salvá-lo ou mantê-lo na atmosfera de um planeta inóspito, mas não muda a necessidade que ele tem de respirar.
 A discussão existencial, no entanto, não para aÃ. Em outras ocasiões, o personagem principal expõe sua visão de sentido da vida, que não me recordo agora, porém se parece com a primazia das relações humanas, as quais não seriam menos importantes que as descobertas sobre o universo. Isso significa que apesar de todo conhecimento cientÃfico e tecnológico, ele se prende à ligação com as pessoas, em especial seu ciclo social, seus filhos. E eu? O que é uma reflexão sem pensar no "eu" a partir do "outro"? Os estudos na minha realidade podem ser um pulo de consolidação da minha classe social, de uma carreira universitária e da participação na construção em conjunto com o mundo da Ciência. A questão posta nesse exemplo é: isso se torna mais importante que dedicar atenção a minha famÃlia e à sociedade? Ou a minha própria saúde, que faz parte da minha condição biológica?