Ricardo Basilio

Disintegration é um álbum não deve ser apenas ouvido. Ele deve ser "sentido". É um convite a um passeio frio e melancólico. Escutá-lo sozinho, do início ao fim, em uma tarde chuvosa é a melhor forma de apreciá-lo e entendê-lo. Produção impecável. Arranjos geniais. Aqui temos o melhor de Robert Smith com seu Fender Bass VI. Além de uma das melhores, se não a melhor, formação do Cure. Boris cirurgico na bateria, Gallup marcando bem (sem roubar a cena) as melodias com o contrabaixo. Os Keyboards, protagonistas em quase o álbum inteiro, derramam uma tempestade de neve nas músicas, garantindo um clima denso, frio e melancólico. Não vou citar as músicas individualmente pq elas se completam e fazem parte de uma viagem sonora e não devem serem ouvidas aleatoriamente... Mas... The Same Deep Water As You é surreal! É uma canção que consegue me levar a outra dimensão. Disintegration é o melhor álbum já lançado por humanos. Desafio uma raça superior a lançar algo melhor.

Não acho justo esse álbum ser considerado parte da "Trilogia Dark" do Cure. A não ser que levemos em consideração apenas as letras. A parte instrumental e produção do álbum no geral deixa muito a desejar. Muito violão e muita distorção nas guitarras que remetem muito mais as bandas inglesas dos anos 90 do que a verdadeira essência do Cure. Praticamente não se ouve o contrabaixo do Gallup "marcando" as músicas nem a magia de Robert com seu Fender Bass VI. A forma monótona e sem muita inspiração que Smith canta a maioria das músicas contribui também para o resultado ruim. Muita pretensão tentar colocar Bloodflowers na mesma prateleira de Pornography e Disintegration que são, sem dúvidas, as duas maiores obras primas do Cure. The Last Day of Summer poderia ser uma faixa do Wish, There is No If é legalzinha e a faixa Bloodflowers tem bons momentos. O resto é esquecível e confuso. Considero esse álbum um Wild Mood Swings que tenta não se afogar em sua falta de inspiração.