Durante onze longos meses, após aquele triste 9 de novembro, aguardei ansiosa pelo momento de assistir ao filme “Meu Nome é Gal”, anunciado logo após a partida da “Mãe de Todas as Vozes” para os palcos da eternidade. Pois bem, o dia chegou e não me decepcionei.
É claro que há falhas artísticas, históricas e musicais mas nada compromete a homenagem, justa, merecida, doída, que flui exatamente assim, como um tributo.
O que achei interessante foi o recorte abordado pelo filme, pois mostra, pelo menos a mim, justamente a fase inicial da carreira de Gal, que não vivi em tempo real, por ser ainda muito menina. Minha vivência da carreira dela começa exatamente onde termina o filme, com o álbum FA-TAL. Depois, vieram ÍNDIA, sobre o qual já falei aqui, e o o show Doces Bárbaros, o primeiro a que assisti na vida. A partir de Gal Tropical, em 1980, já maior de idade e podendo frequentar shows sem depender da companhia dos mais velhos, assisti a todos os seus shows, só não deu tempo de assistir ao último, As Várias Pontas de uma Estrela.
Para mim, como admiradora, musicista e mulher, a maior glória mesmo foi ter sido apresentada a ela, no início dos anos 90, por grandes amigos da Escola de Música da UFRJ e ter de alguma forma convivido, ainda que por poucos anos, com a estrela que eu admirava de longe. Foi aí que vi que ela era real. Aquela voz, aquela presença, aquela técnica totalmente intuitiva, existiam de fato. O filme me deu a ponta que faltava do fio condutor da trajetória de uma das maiores cantoras que já conhecemos.
Após o desencarne de Gal, Caetano disse que, para entendermos tudo, deveríamos ouvir “Recanto”, o maravilhoso e delicado álbum e show que produziu para ela. Eu já tinha ouvido inúmeras vezes mas ouvi outra vez. Caetano tem razão, como sempre, principalmente quando fala de Gal. Realmente, Recanto nos diz muito e Meu Nome é Gal, o filme, completa o entendimento. Acabo de ver o filme. Vou ouvir (novamente) Recanto.