Animação: 5 estrelas, já que segundo a teoria dos traços animados de Antônio Luiz Cagnin, a semiótica trazida pelo sistema de movimentação quadro-a-quadro da animação é de nostalgia, já que tais desenhos de personagens e ambientação climática não nos deixam olvidar as antigas obras primas da Disney, até as superando em alguns aspectos. Os grandiosos produtores desta obra de arte chamada A Tartaruga Manuelita usam aspectos de iluminação, natureza, céu e cidade que climatizam o cenário de forma a recordar as charmosas cidades italianas do século XX. Sendo assim, apenas com esse aspecto, já é muito poético que o filme tenha sido lançado no último ano do século, sendo uma ótima homenagem a todos os feitos passados e uma saudação caudalosa a um ano, um século e, sobretudo, a um milênio tão esperado.
História: como já supracitado, o filme é uma obra prima. A história, desta forma, não poderia ser uma excessão: a trama gerada pela inesperada escolha de uma tartaruga para ter um sonho de voar pelo mundo traz, subliminarmente, dramas humanos muito recorrentes em nosso século: o empoderamento feminino, a superação da menoridade no sentido kantiano, a independência das opiniões alheias sobre seus sonhos, a busca da felicidade aristotélica, e, de forma distinta à abordagem simplista e materialista dada atualmente pelos coachings, explora a jornada para a realização dos sonhos individuais recordando conceitos como vocação, perseverança e ousadia. O incrível Manuel García Ferré, diretor, demonstra-se um argentino ainda mais genial por não ocultar, como muitos fazem nos dias correntes, os obstáculos, dificuldades e sofrimentos que surgem com a ousadia. Manuelita, a protagonista, segue uma jornada épica de heróis, não com grandes batalhas e encontros como nos aclamados filmes da Marvel, mas na atmosfera psicológica, ganhando e aprendendo a lidar com o superpoder da maturidade.
Moral da história: a história, recheada de lições valiosas, converge para a grande moral, que é exposta no livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, quando Max Weber relaciona as condições de surgimento do Sistema Capitalista com a ainda em construção ética protestante, que contrariando a anterior ética católica vigente, valorizava as ambições individuais como um louvor a Deus, de certa forma, se fossem feitas de forma moralizante. Manuelita, com sua ambição de voar, gera um espírito moralizador em seu círculo de familiares e amigos, incentivando-os e emocionando-os. O paralelo que sobressai do filme à realidade, assim, é uma belíssima homenagem a Santos Dumond, que, cheio de ambições e preenchido do ardente desejo de voar, trouxe muito orgulho ao nosso país.
Dublagens: a dublagem original, é claro, combina mais com a atmosfera e estilo do filme, que é um ode à cultura latina. Porém, a dublagem brasileira, apesar das dificuldades de adaptação, mostram que a iniciativa visionária do SBT, de adaptá-la ao português brasileiro, não foi equivocada: sem perder o aspecto lúdico que tanto atrai o público-alvo, as crianças, os excepcionais dubladores mantém o fluxo natural da história, adaptando perfeitamente todos os dramas elogiados acima.
Considerações finais: esta obra, com todo o contexto temporal, filosófico e temático, demonstram que a autora María Elena Walsh estava muito à frente de seu tempo. Simplesmente incrível!
Teenage Mutant Ninja Turtle.
Nota: 8/10, podia melhorar!