"O xadrez, como o amor, como a música, tem o poder de fazer os homens felizes." Talvez o médico judeu alemão, Siegbert Tarrasch, um dos mais fortes enxadristas do fim do século XIX e inÃcio do século XX, que chegou a ser um dos quatro melhores do mundo, tenha cunhado a melhor frase sobre o jogo/esporte/ciência/arte. Com o perdão do Dr. Tarrasch, que deixou um imenso legado para o xadrez, trocaria o final da sentença por: fazer a Humanidade feliz.
Excelente, esplêndida e primorosa são as palavras que mais tenho lido e ouvido sobre a minissérie em sete episódios. A protagonista Elizabeth Harmon, é vivida com garra, brilho e paixão por duas atrizes: na infância, Isla Johnston dá a introspecção, a timidez e a curiosidade na medida certa à Beth.
A partir da adolescência, quem encarna a menina criada sem a presença do pai, por uma mãe doutora em matemática e com tendências autodestrutivas, que se suicida e deixa a filha órfã, é a estrela em ascensão Anya Taylor-Joy. Após a morte da mãe, ela vai para um orfanato no Kentucky, no fim da década de 50. O ambiente é árido e repressor. Por suas caracterÃsticas, Beth se isola e só faz uma amiga: Jolene (Moses Ingram), uma menina questionadora e inteligente, que acredita que nunca vai ser adotada porque é negra. O xadrez entra na história, quando Beth vai ao porão do orfanato e se encanta com o jogo praticado pelo zelador, o senhor Shaibel (Bill Camp, em outra magnÃfica atuação). Daà em diante, as coisas começam a acontecer.
A produção é caprichada. Figurino, fotografia, trilha sonora e cenografia nos levam ao final dos anos 1950 e à década de 60. As atuações são acima da média. O Sr. Shaibel representa os aficionados do xadrez. É o amador, no amplo sentido: o não profissional e o que ama. Se nunca foi um grande jogador, se realizou vendo o crescimento de sua pupila nos tabuleiros do mundo.
O criador e diretor Scott Frank joga, ou melhor, dirige a produção como um GMI, Grande Mestre Internacional, a maior titulação do jogo de xadrez. Sem dúvida, uma das melhores séries do ano. Para quem joga ou não tem a menor noção da magia do jogo de xadrez.
Que não seja o xeque-mate e tenhamos uma segunda temporada.