Carlos Rossi

Praticamente uma peça de teatro em forma de filme, o formato, que pode causar estranheza aos desavisados, extrai o melhor da atuação de Boseman e de Davis e do roteiro de Santiago-Hudson, e consegue antagonizar as posturas de Levee e de Ma Rainey como negros talentosos que brilham, como grandes artistas que são, porém atados a uma indústria fonográfica - e, por que não dizer, uma sociedade - dominada por brancos.

Um sopro na poeira que pode ter se acumulado sobre a obra-prima de Welles, "Mank" nos encanta com o carisma do seu protagonista e nos deixa a par do jogo de azar político que rola nos "cassinos" de Hollywood. Minha única ressalta é que me parece irônico que a crítica à escrita de Mankiewicz, tida como confusa pela sucessão de flashbacks, pareça ter influenciado os Fincher na decisão de indicar para o espectador quando víamos o passado do protagonista, porém não descarto a possibilidade de um pano de fundo sarcástico na decisão, que combina muito com a persona de Herman pintada no longa. "Mank" certamente é um presente para os grandes conhecedores da História do Cinema, e, para recém-chegados como eu, desperta ainda mais o interesse na sétima arte.

Sorkin fez um trabalho exemplar em trazer a história de um tribunal com todo o impacto que poderia ter. O filme deixa o espectador com os nervos a flor da pele ao presenciar os sucessivos excessos cometidos pelo Governo e pela Justiça para vencer a crise institucional pela qual os EUA passavam ao fazer com que a Guerra do Vietnã se prolongasse. Nas figuras dos oito líderes das manifestações que marcaram a Convenção Democrática de 1968, em Chicago, representados por um elenco de peso, tudo no longa é político, inclusive seu título. Embora se perca em alguns momentos, com seus múltiplos flashbacks e narrativas cruzadas, a obra um deleite para aqueles que entendem que toda história tem múltiplos lados.

Nessa caprichada animação distribuída pela Apple, vemos a mitologia irlandesa nos sendo apresentada de maneira extremamente lúdica e colorida. Impossível não se encantar com o visual do filme, em que cada frame parece uma pintura. O enredo se disfarça de simples apenas para nos emocionar com as inseguranças com as quais o amor entre pais e filhos convive e, com brilhantismo singelo, desbravar a dicotomia cliché do "homem-monstro" sob uma óptica bastante original no roteiro de Will Collins.