Silvia A.A.

Um filme surreal com uma direção de arte incrível. Construído de modo a ser transparente, grotesco e ao mesmo tempo poético. Para além da questão do quê permaneceria do indivíduo num transplante cerebral, o filme apresenta diversos questionamentos interessantes. Um deles é sobre aquilo que nos é ensinado desde a infância e acaba por constituir nossas limitações morais. Mas o que veio primeiro? A liberação que só foi possível por ser induzida pelo transplante ou o papel castrador/ liberador da familia e da sociedade? Afinal, Bella parece a mesma pessoa, com os mesmos anseios desde o início, ou então nem teria se suicidado... A amoralidade de Bella repousa numa visão um tanto distorcida (que combina bem com as lentes olho-de-peixe), demasiado centrada numa sexualidade que é superada à medida em que Bella é permitida experimentar de tudo que lhe convém. Uma obra que diverte e sobressalta na medida exata, que fica ainda mais perfeita dentro do ambiente distópico, que permite mostrar exatamente o que há para ser visto, sem romantização.

Para os que dizem que "não é sobre Star Wars": O cerne da história gira em torno do imponderável que cerca o conceito sobre a Força. Tenta dizer que Ela é maior que os Jedis e que pode ser usufruída por quem tiver a oportunidade de conhecê-la, mas sempre estará sujeita às polaridades mundanas, que incluem tanto a "legislação" Jedi restritiva quanto a possibilidade de ser apropriada livremente pelo que é fugaz, como a raiva, o ressentimento e o desejo. Claro que nenhuma das opções parece boa o bastante, pois sempre aparece o elemento da busca pelo EQUILIBRIO. Essa é uma ideia tão profunda e presente no universo Star Wars, quanto difícil de tratar sem arranhar a percepção de quem tende a confundir quaisquer universalidades com "lacração". Em absoluto, a série não é sobre "lacração" e não há imposição de elementos ausentes do universo Star Wars. Todos os elementos apresentados sempre estiveram ali, e a ideia básica vive forte no constructo da trama desde o início. É sobre o que sabemos e transformamos em mitos. E é sobre o que está latente e o que está manifesto nestes mitos! A série promete ser uma bela forma de demonstrar a verdadeira natureza da Força, que vai além do que é ensinado aos Jedis, aos Siths e qualquer um que seja tocado por Ela. Uma aposta criativa de expansão que não deixou de gerar insegurança à poderosa e reacionária Disney. Diálogos e construção estão dentro do projeto de simplificação que a produtora tem aplicado a Star Wars, provavelmente para agradar um fandom que ela julga ter as mesmas características. Quanto ao cancelamento, talvez o tema tenha se tornado complexo demais e ela mesma decidiu se autossabotar através de seus soldadinhos de chumbo... Mas ainda assim vale a pena assistir! E talvez nem precise tanto de outras temporadas... Mas não espere uma obra-prima, porque não é.

Ruptura é sobre tecnologia e trabalho. E é sobre aquele tipo de tecnologia que realmente assusta, pois apresenta uma ação manipuladora bastante invasiva sobre o comportamento humano ao restringir e contextualizar o acesso às próprias memórias. Mas no que refere ao trabalho, será que é mesmo necessário ainda mais controle por parte do empregador? Talvez a ideia de começar do zero ou poder dedicar-se à ocupação sem que outras preocupações interfiram seja uma idéia atraente para submeter-se, mas a possibilidade de ter empregados que além de não trazer problemas de casa possam ter uma espécie de mente virgem seja ainda mais tentadora para as corporações. Entretanto uma questão adicional é apontada: Você sem memória ainda é você? Mas afinal, o que caracteriza você? Principalmente, queremos saber se nossas memórias são o que nos caracteriza como indivíduos. Podemos ainda ir além se considerarmos que não é apenas uma questão semântica...

Sou geek de carteirinha...E claro, achei um bom filme. Mas já estou cansada dessa mesma fórmula reaplicada em filmes como "O dia depois de amanhã", "Independence day"... Parece tudo a mesma coisa: Personagens caricatos representando o herói abnegado, o sacrifício pela família com a qual sempre há um conflito, o caos social pré apocalíptico...Não se vai a fundo em nenhuma questão abordada. Tudo aparece de forma superficial e protocolar. Por fim, aproveita-se bem os tempos para gerar adrenalina e um pouco de redenção. Bom divertimento.

Muito além de uma alegoria de Aronofsky sobre outras alegorias que falam da origem dos tempos (não apenas a bíblia), tem todo seu estilo peculiar (Lembrei-me muito de THE FOUNTAIN enquanto assistia); contém arquétipos cuja percepção visceral é mandatória! Uma mensagem muito bem construída para quem está preparado para recebê-la, para quem ao menos uma vez já refletiu sobre a temática ali tratada. É um filme poético, muito mais para sentir do que interpretar à luz das referências mais óbvias. Fantástico!