Esse filme perpassa um traço da história de vida do Sr. O’Brien e sua família ao mesmo tempo que demonstra o modo como a vida de cada um está conectada à dos outros. É necessário estar num dia leve e introspectivo para ser tocado pela trama. Não é um filme de entretenimento comercial, e por isso vai muito além do que qualquer outra película foi capaz de trazer.
Um ponto muito forte e que deve ser prestado atenção é a preocupação que os diretores de arte tiveram com a fotografia materializada em consonância à trilha sonora orquestral. Isso tudo feito de modo a mesclar cenas na linha do tempo, seja de um passado pré-histórico, com imagens que vão desde o espaço astronômico até o espaço terreno. Ou do passado das próprias personagens, memórias entronizantes de aspectos que vão do macro ao microcelular e molecular. Tudo isso traz um tom de mistério para a história que está sendo contada aos pouquinhos. É um filme longo que nos ajuda a pensar sobre a razão da existência humana e os caminhos que a circundam, evidenciando nossa pequenez no universo e como nossas atitudes podem ser vistas por uma terceira pessoa, algo muito maior que nós.
É difícil definir o quão épico e tocante os poucos momentos de diálogo da narrativa podem ser, tão bem como é por demais ímprobo tentar mensurar o grau de aproximação que a câmera traz para cada personagem à proporção que mergulha no mais íntimo que estes podem sentir ou pensar. Aqui, o ponto de vista da câmera importa muito. Há cenas em que o foco é mais distante, ora mais próximo, ora mais embaixo, como se uma criança estivesse filmando e nos contando a história.
Também é válido ressaltar que os momentos de monólogo de cada personagem estão muito próximos do que chamamos por “oração” / “reza”, e isso traz um tom muito intimista e especial para que o espectador veja como eles, em sua própria perspectiva, enxergam as coisas que acontecem.
O’Brien tem três filhos e cada um com um traço de personalidade específico. O primogênito é um dos personagens mais trabalhados na história, assim como seu crescimento.
Outra coisa são os figurinos e a cor clássica do filme, que tende a remeter muito à inocência e à imaturidade, como também serve para mostrar a grandeza da natureza. É possível ver isso tanto no vestuário de certas personagens como nos matizes construídos na imagem que, pela maior parte da narrativa, aproximou-se dos tons esverdeados, alaranjados e azuis.
Dentre as tópicas significativas que o filme trabalha, estão o amor, a desavença, o empenho, o trabalho, a confiança, a traição, a morte e o nascimento, o luto, a maternidade e a paternidade, as relações hierárquicas na família, o crescimento, a imaturidade e a culpa, a ira, a rebeldia, o carinho, o tato, o perdão, a devoção e espiritualidade, absolutamente tudo, todos os temas podem ser cristalizados enquanto a história rasteja para um não lugar específico. Aqui, o que importa não é o ponto de chegada no paraíso, logo nos minutos finais, mas justamente a travessia, o que acontece no meio.