Ailton Fernandes Gomes

A fórmula de se utilizar a vida de uma pessoa para vislumbrar as mudanças transcorridas no mundo durante o período correspondente poucas vezes foi tão bem executada; e a combinação de narrativa factual com reflexões do biografado mostrou-se perfeita.

Este pequeno livro exemplifica, pela presença e pela ausência, o que García Márquez tinha de melhor: uma imaginação ardente - que perpassa a história de Ana Magdalena Bach do início ao fim - e uma costura narrativa impecável - que a demência o impediu realizar em todas estas páginas que ora conhecemos. Assim mesmo, gostei imenso. E, como leitor/ admirador de Gabo, agradeço a seus filhos este ato que só na aparência é de traição, pois, na verdade, é uma linda prova de fidelidade ao talento do pai.

Por sua embasbacante inventividade formal; pela finíssima elaboração de personagens riquíssimos em sua complexidade; e pela soberba capacidade de, por meio de uma trama compacta, expor uma implacável interpretação da história (e do presente) do Brasil - especialmente o retrato preciso daqueles que para permanecer nas coberturas servem-se amoralmente dos porões - Ivan Angelo, grão-mestre da ficção, escreveu o grande romance brasileiro dos últimos anos.

Uma impiedosa e indispensável evisceração do Brasil real e do oficial. Nenhum escritor contemporâneo faz o "Brasil mostrar a tua cara" com tanta contundência quanto Bonassi. E nada interpreta tão bem nossas mazelas quanto a ficção atual.

A deliciosa combinação de amplo conhecimento histórico com fervilhante imaginação alcança aqui um patamar difícil de ser igualado, sobretudo pelo incrível domínio de variados registros linguísticos. Um Jabuti merecidíssimo!

Soberbo. Cortante como Graciliano Ramos. Profundo como poucos. Que a Todavia continue a publicar o restante da obra desse extraordinário escritor. Assim, quando seu Nobel chegar, não será mais um desconhecido entre nós.

Sarcástico e terno; brutal e hilário; realista e surrealista; conciso e épico. Um feito literário extraordinário.

Maravilhosamente enriquecedor e urgentemente necessário. Só poderia ser feito por uma jornalista de um talento verdadeiramente amazônico.

Tendo adorado "A cabeça do santo", gostei menos desta segunda incursão de Socorro Acioli no gênero romance. A história não é tão bem costurada, e a escolha do narrador em primeira pessoa não foi boa, pois a autora só domina esta voz nos capítulos finais. Bonito, mas, frente a história da estátua do santo abandonada, a da igreja soterrada jaz coberta pelas areias da fórmula.

Uma encantadora e irresistível despedida (ao menos assim anuncia o autor) despedida dos romances deste gigante das letras latino-americanas - e mundial, "por su puesto!"