marcos morelli

No "O Som do Sim", terceiro disco solo de Herbert Vianna, o destaque aqui são as participações especiais de grandes cantoras como Zélia Duncan (na belíssima Partir, Andar) e de Cássia Eller (na excelente"Mr. Scarecrow", que ganhou clipe na época do lançamento) e ainda "Vamos Viver" com Sandra de Sá (em uma arranjo encantador). Traz texturas eletrônicas em muitas canções, com violões e guitarras muito bem colocados, tornando o resultado final interessante. É o caso de "História de uma bala", com Fernanda Abreu. Nana Caymmi, talvez aqui a participação mais curiosa do disco, interpreta com Herbert Vianna "Hoje Canções", com melodia super elaborada. Aponta um caminho sonoro que os fãs dos Paralamas até então escutavam em alguma ou outra canção do grupo. Mas este resultado impressiona. Está distante do caminho melódico fácil. É um momento crucial do disco. É preciso ler atentamente o encarte para descobrir que "O Som do Sim" é um disco coletivo, com músicos convidados tocando em todas as canções. Nomes como Marcos Valle, Wilson das Neves, Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), Henrique Portugal (Skank), Bacalhau (Rumbora), Liminha (que também assina a produção ao lado de outros nomes) e Fred (Raimundos) tocam em canções que ainda contam com as vozes de Fernanda Takai, Érika Martins, Luciana Pestano e Daúde, além de Black Alien e Moreno Veloso (em um resultado incrível em "Um Truque"). É um disco pop e moderno e tem o seu valor. Soa distante das outras duas experiências solo de Herbert Vianna, o que torna tudo ainda mais interessante.

O segundo disco solo de Herbert Vianna é um dos melhores trabalhos já realizados por ele. Aranjos de violão, guitarra e piano brilhantes, surpreendem pela simplicidade e cuidado melódico. Trata-se de um trabalho que é fruto de um período extremamente criativo do compositor e o resultado é totalmente solar, soando pop sem qualquer apelo fácil. Tudo atrai neste álbum: da capa ao encarte e os sentimentos que desperta a cada nova audição. As letras são excepcionais (totalmente autorais ou em parceria com compositores como Fernanda Abreu, Bi Ribeiro, George Israel e Paula Toller) e ainda traz covers de Fito Paez e Eric Clapton. A instrumental "Tweety" é belíssima. Para quem toca violão e guitarra, "Santorini Blues" é uma escola de riffs, construções melódicas e simplicidade. Não se chega a um resultado assim da noite para o dia. É um disco de voz e violão (com guitarras pontuando frases e criando atmosferas). Embora o disco se afaste totalmente de qualquer experiência já realizada antes com Os Paralamas do Sucesso (não há bateria e baixo) todas as músicas parecem prontas para tocar nas rádios. Do repertório "paralâmico" tem "Uns Dias" (com maestria de Herbert Vianna no arranjo) e "Dos Margaritas" (que abre o disco anunciando uma camada sonora acústica impressionante). O destaque aqui é "A Palavra Certa", que ganhou clipe na época do lançamento. Outra pérola autoral é "Lucca". Ouça do começo ao fim. "Santorini Blues" (que aqui dá nome ao disco e que depois viraria música no álbum "Hey Na Na") é um presente.

Este primeiro disco solo de Herbert Vianna traz uma sonoridade brasileira e com letras mais longas, mais discursivas, quase no estilo repente. Não é um disco de hits. É um disco de atmosfera sonora. Não escute "Ê Batumaré" procurando o "som" dos Paralamas. É um disco totalmente pessoal, gravado de modo caseiro. A busca melódica que o Herbert veio explorando ao longo dos anos 90 é muito nítida logo nos primeiros acordes de "A Nova Cruz", que abre o disco. Entre as músicas com influências da literatura brasileira (nos temas) que mais tarde seriam apresentadas no disco "Severino" (para mim, quase uma continuação deste trabalho solo) ouça "A Dureza Concreta" (que apesenta um violão bem brasileiro). "Impressão" e "Qualquer Palavra Serve" são mais experimentais. "O Rio Severino" foi regravada pelos Paralamas depois. "O Retirante Harry-Dean", é uma boa canção que pode passar batida. Ouça com atenção. De mais próximo do que foi feito com Os Paralamas do Sucesso tem "Lição de Astronomia" que poderia muito bem ter sido incluída em qualquer disco da banda. Traz a fórmula (ótima) das grandes canções de Herbert Vianna. "Rio 92", sincera e linda, é um retrato muito bem feito do anos 90. Uma A última canção "A Primeira Neve" é outra com a "vibe paralâmica" encerrando o trabalho de um modo brilhante. "Mobral" é outra típica canção dos Paralamas dos anos 80, reggae dos bons, mas com letra politizada. As frases de guitarra, super bem elaboradas e que trazem a assinatura sonora deste brilhante músico, estão presentes aqui em "The Scientis Writes a Letter".