A Annapurna acertou de novo!
O jogo começa bem “macio” e devagar, com você controlando o gato junto com outros gatinhos. Se você gosta/tem gatos, será conquistado logo de início, quando controlar o gato e puder fazer algumas coisas que os gatos fazem, além de poder miar a vontade.
O jogo possui uma excelente jogabilidade, principalmente se você puder jogar com um controle (como o próprio jogo recomenda) – ah, cara, jogos da Annapurna que te recomendam jogar com um controle costumam ser excelentes nesse quesito – e isso foi um grande acerto, considerando que o jogo é uma mistura de plataforma 3D com puzzles + stealth, muitas vezes com velocidade. Embora não seja um jogo de mundo aberto, você poderá explorar vários locais que normalmente você não esperaria explorar, justamente por jogar como um felino. Então em muitos momentos você vai precisar “pensar como um” para poder descobrir como chegar em determinados lugares.
Os ambientes são extremamentes imersivos e interativos. Você consegue interagir com quase todos os objetos do cenário, ainda que sejam objetos puramente decorativos. Poderá cutucá-los, movê-los, derrubá-los e empurrá-los. Essas interações, ainda que sejam com uma física básica, enriquecem muito a imersão.
O que me leva a falar dos gráficos. O jogo possui gráficos lindos e extremamente caprichados e te entrega uma qualidade espetacular sem que você precise vender seu carro para comprar uma placa de vídeo top de linha. Isso, unido com a jogabilidade, te levará a um nível de imersão em que você realmente irá sentir que é um gato em um mundo cyberpunk. Você irá sentir todas as emoções dos diferentes ambientes que irá frequentar, dos mais apagados e sem vida até os mais saturados e coloridos. A direção de arte e fotografia é um primor neste jogo.
A trilha sonora também é excelente e alterna de acordo com o ambiente e situações em que você passar. Mantém-se discreta uma boa parte do tempo, alternando para energética em algumas fugas e perseguições, ou engraçadinhas dependendo da situação, ou depressiva dependendo do contexto. Os efeitos sonoros também são caprichados e bem envolventes.
E é claro, para fechar o pacote, a história do jogo. Porque sim, o jogo não é apenas “um jogo fofo de gatinho” dando um rolê aleatório num mundo cyberpunk. Este jogo possui uma história, e a história dele é incrível. Obviamente não vou falar muito sobre ela, mas no começo, você vai começar bem fora de contexto, e será uma experiência leve. Conforme você progredir para a parte “cyberpunk” do jogo, coisas serão reveladas e muitas dúvidas surgirão. “Por que que isso é assim?”. Embora o jogo seja curtinho (variando de 6 a 8 horas, dependendo do quanto você explorar), a história escala num ritmo que te prende a atenção e curiosidade, ao mesmo tempo em que você vai compreendendo que “algo de errado está muito errado” nesse mundo do nosso felino. Isso culminará em um p*** plot-twist no final. E não é só o fato de ser “um plot-twist”, e sim o “tema” relacionado a ele, que resolve e explica tudo o que está acontecendo, um tema extremamente atual e delicado, talvez até passível de gatilhos dependendo de como foi seus últimos anos. Eu não sei se foi coincidência com a realidade (acho difícil) ou se os desenvolvedores já planejaram isso desde o início da criação do jogo em 2015, mas eu achei fenomenal como esse tema foi inserido para contextualizar a história. Os desenvolvedores foram corajosos e respeitosos na abordagem. Me surpreendeu mais do que eu esperava.