É desse “instante final” que trata o filme, um instante que não é regido pela nossa lógica temporal e espacial. É um instante que, pelo contrário, se expande no tempo e no espaço mental ditado pelo sujeito, suas referências, lembranças e desejos. É este “instante final” que fornece o material necessário para o enredo do filme, e o enredo final da própria vida do sujeito, seus desenlaces últimos.
Vítima de um acidente de carro fatal, para si, para a namorada e para os pais, Henry parece só um corpo, no chão, em meio a metal retorcido, fogo e barulho. As pessoas correm e o cercam, observam, oferecem ajuda. Ele ainda está vivo, mas, por apenas um instante. É nesse instante que ele fita vários olhares, ouve várias frases, sente o contato das pessoas. É o seu instante final, ele sabe disso. Mas, não se desespera. São com estes olhares, frases e contatos que vai reviver seus conflitos, os sentimentos que o dominam. Naquele instante, com aquelas pessoas, ele monta o enredo final de sua vida, tentando, de alguma forma, uma resolução para seus dilemas e sofrimentos.
Nesse instante, só lhe vem a culpa. E é essa culpa que, num espaço de três dias (em seu tempo mental) ele vai viver intensamente, com todas as suas dores (depressão, abandono, medo, dor, suicídio). É nesse espaço de tempo mental que o filme se desenrola. Ela sabe que tudo agora é só um instante. Por que não pediu a namorada em casamento? Por que não lhe deu o anel que comprou? Por que não evitou a morte dos pais? A culpa o atormenta. Só o que ele deseja é ser perdoado, mas sabe que vai para o inferno. Trilha sonora impecável Theses eyes.