This Mortal Coil - It'll end in tears
Falar, citar ou simplesmente pensar nos discos lançados pela 4AD é sempre um exercício que inclui um contato com a genialidade, riqueza de criação e concepção e a busca pela beleza em suas mais exacerbadas possibilidades.
Tudo é norteado por uma beleza sem maniqueísmos, polarizações ou objetivos. É o belo pelo simples fato de ser belo, tanto na arte gráfica das capas, dos encartes, da tipografia utilizada, na textura do papel, na beleza e contextualização dos selos, das impecáveis prensagens dos discos e das músicas que motivam toda essa movimentação, que acabam por tornar os ouvintes em verdadeiros estetas; ou então desperta o esteta adormecido que existe em todos nós.
“It’ll end in tears” dá continuidade a grandeza do trabalho de estreia do TMC, o EP “16 Days Gathering dust”, só que desta vez em LP e contendo uma maior variação na formação dos grupos.
Conforme citado no post sobre “16 Days”, mesmo o grupo sendo formado por essa colcha de retalhos a partir de vários outros grupos, o “This Mortal Coil” consegue ter uma identidade definida e não se confunde com os trabalhos paralelos dos seus integrantes temporários. Ao ouvirmos, por exemplo “Elizabeth Fraser” dos “Cocteau Twins” em algumas participações, fica claro que não se trata de sua banda de origem, tal a estética e o diferencial da proposta do “This Mortal Coil”.
Este trabalho reúne a nata da gravadora em composições tão impactantes e únicas, que soa como uma síntese do que é a 4AD. É tão autêntico sonoramente, quanto visualmente. Ele materializa um texto da eterna Clarice Lispector:
“Eu dou um salto no escuro e mastigo trevas, e nessas trevas às vezes vejo o faiscar luminoso e puro de três brilhantes que não são comíveis. Quando venho à tona trago um brilhante em cada pupila dos olhos para transpassar o opaco do mundo e o outro entre os lábios semicerrados para que quando eu fale, minhas palavras sejam duradouras, cristalinas e ofuscantes.”
Os integrantes deste primeiro álbum são:
Elizabeth Fraser – Vocais (Cocteau Twins)
Robin Guthrie – Guitarra (Cocteau Twins)
Simon Raymonde – Guitarra, Baixo, Sintetizador (Cocteau Twins)
Lisa Gerrard – Vocais (Dead can Dance)
Brendan Perry – Bateria (Dead can Dance)
John Fryer – Vários intrumentos (Produção)
Gordon Sharp – Vocais (Cindytalk)
Martyn Young – Sintetizador, Baixo e Guitarra (Colourbox)
Mark Cox – Sintetizador (Wolfgang Press)
Steven Young – Piano (Colourbox)
Manuela Rickers – Guitarra (Xmal Deutschland)
Martin McCarrick – Violoncelo
Gini Ball – Violino, Viola da Gamba
Ivo Watts-Russell – Teclados (Produção)
Robbie Grey – Vocais (Modern English)
Howard Devoto – Vocais (Luxuria, Magazine e Buzzcocks)
“Kangaroo” inicia o álbum como um lento e acolhedor facho de luz suave, revelando as brumas que escondem as delícias e descobertas que estão por vir. Tudo embalado pela voz de “Gordon Sharp” (mantendo uma tonalidade mais masculina) e o Violoncelo de “Martin McCarrick”;
A eterna e deslumbrante “Song to the Siren” entra a seguir na inconfundível voz de “Liz Fraser” e é provavelmente o mais perto que o ser humano já chegou dos efeitos de quem ouve o canto das sereias;