Gray já aponta, em livros anteriores, que a ideia de comparar o progresso da humanidade com o da ciência e tecnologia tornou-se, nos tempos atuais, um dos erros capitais que tem nos conduzido a experiências cada vez mais acintosas à liberdade humana e à tolerância, além da produção de centenas de milhões de cadáveres. Tudo em nome do progresso. A História tem sido pródiga em desmentir esse progresso e convivemos hoje com constantes retrocessos de aspectos que já contávamos como superados : tortura, escravidão, violência, ganância extrema, autoritarismo, etc. Sob essa égide, talvez estejamos num momento perigoso de nossa história que tem nos legado conceitos como o ódio do bem - uma das práticas mais nefastas que pretende fazer acreditar que o odiar o mal é, em si, um bem e que portanto qualquer meio é tolerável para que tal fim seja atingido, inclusive praticar o mal. O problema aqui não é o mal em si, mas os esforços para eliminá-lo em nome de um bem difuso sob argumentos de se praticar o bem. Ideias como essa fazem com que aqueles que se aprofundem um pouco mais façam como Ivan Karamazov de Dostoeivski e devolvam seu bilhete. A ciência e a política fazem parte do novo evangelho de uma religião chamada humanismo, absolutamente monoteísta, em que se espera através da razão e da técnica empurrar definitivamente a história para o progresso que ninguém até agora conseguiu definir qual é e, ainda que alguém pretenda defini-lo, em que bases poder-se-ia afirmar qual é o sentido correto, desejável e único das possibilidades da humanidade. Se não por um ato de tomada do lugar de Deus, único, quem poderia definir qual seria o "objetivo da humanidade"?